O orgasmo é uma sensação única.
O transe que nosso corpo experiência durante o sexo e a provocação de estímulos ao nosso corpo e mente fazem com que nossos corpos provem um prazer extremo e, ao mesmo tempo, carregado de tabus.
Embora existam obras-primas antigas que discorrem sobre as experiências e as técnicas sexuais – como o sexo tântrico, por exemplo, ou massagens Yoni (“Portal Sagrado”) e Lingam (“Bastao de Luz”)-, nossos conhecimentos sobre a sexualidade e a forma como ela interfere em nossas vidas ainda passa por uma compreensão rasa nos dias atuais.
Ainda assim, nenhum controle é capaz de minar o interesse que nos faz questionar nossa moralidade e nossa existência no mundo.
O mesmo interesse que movimenta um volumoso capital através da indústria do sexo, que vai desde a moda até a produção de dispositivos e indústria audiovisual e que são reunidos em feiras e festivais.
Neurobiologicamente, o orgasmo é o ápice de uma orquestrada interferência de ações e reações fisiológicas, com a liberação de hormônios e neurotransmissores que em nosso corpo manifesta sensibilização dos nossos sentidos.
Por ser uma experiência avassaladora, impacta em nosso bem-estar quando presente ou não, já que pode interferir na qualidade de vida e na forma como processamos nossos problemas e lidamos com tensões, assim como outros estados alterados de consciência.
No kama sutra, a exploração desses conhecimentos vai além de posições que possibilitam “sair da rotina”, através da matemática e geometria dos corpos.
E traz ricas informações sobre o que hoje chamamos de “preliminares”, mas que se trata do caráter ritualístico sexual e da relação que se estabelece entre as pessoas que se propõe a explorar e trocar energias.
É curioso que Vatsyayana, o autor dessa obra Indiana era conhecido por ser um celibatário, mas que até hoje populariza o assunto dentro de centros de acadêmicos, como já fazia em seu tempo, séculos antes de Cristo.
Muito do que sabemos hoje com o auxílio das ciências modernas já era conhecido por pessoas visionárias como ele.
Muito dessa troca de energias é potencializado quando buscamos explorar nossa própria sexualidade e entender (e sentir) como a natureza funciona dentro de nós.
Compreender essa forma de autoconhecimento é também se propor a conhecer o outro e a desconstruir os tabus da moralidade que nos colocam em caixas e restringe nossas habilidades, além de impedirem a ampliação do conceito de saúde e cuidado íntimo.
O caminho ao orgasmo influencia e é influenciado pela nossa relação com o equilíbrio e com o tempo.
Culturas antigas reconhecem e valorizam sua interseção com o olhar, os sons, toques, perfume e sabor.
O corpo como “templo” é significado pelo que trazemos desde o nascimento e se traduz na própria materialidade da nossa existência na Terra.
Conectar essa matéria à consciência vital é também exercer uma vivência harmoniosa com a natureza, em vez de restringir o sexo a uma simples interpretação do fenômeno animal da reprodução.
Entender o sexo como tendo apenas uma finalidade reprodutiva é ultrapassado, em especial nos dias de hoje, em que técnicas avançadas permitem o congelamento células reprodutivas e a fecundação assistida, sem falar da moralidade que envolve tal interpretação.
Ainda assim, a formação da vida ainda é sim um fenômeno mágico e cheio de mistérios.
O orgasmo é uma experiência que amplia a nossa consciência.
Um estado alterado, cuja experiência mística foi representada séculos atrás em “O Êxtase de Santa Teresa” na obra de Bernini, hoje encontrada em Roma, Itália.
Nos faz questionar nossos corpos, nos faz querer ler padrões, interpretar o Divino e molda nossas relações interpessoais.
Dentro dessa leitura, os psicodélicos podem ser utilizados para provocar, através do transe, mecanismos novos de convivência, estudados para terapias de casal.
A psilocibina e o ecstasy (MDMA), embora este último não seja exatamente um psicodélico clássico, tem sido utilizados para terapias em casal e de traumas, inclusive sexuais, com resultados positivos para a ciência moderna e futuro.
São promissoras as possibilidades desencadeadas pela desconstrução de estruturas morais estabelecidas ao longo da vida.
A unificação dos saberes com formas práticas de experiência pavimenta o que futuras gerações perceberão.
Entender o sexo como um ritual fundamental em nosso amadurecimento humano é abrir as portas da percepção para novos mundos dentro de cada um de nós.
Autor: Thalita, Associação Psicodéliéca do Brasil